Viver com Ginga: Até ao lavar dos cestos é VINDIMA!

"Não se vê por que maneira, este solo é capaz de dar pão e vinho. Mas dá. Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado e embebedar os quatro cantos do mundo."

(Miguel Torga, in Portugal)

Nesta altura do ano os socalcos do Douro enchem-se de pessoas que recolhem os bagos de uvas para produzir este vinho nosso, de referência mundial. Depois das uvas colhidas estas são depositadas em lagares onde são esmagadas com os pés das pessoas (ou por meios mecânicos, nas adegas) para que possam libertar o seu sumo que dará origem ao vinho.

Enquanto uns pisam o vinho outros animam a festa a cantar ao som do toque do acordeão e das cordas da guitarra.

Eu vou à vindima todos os anos. O meu pai é da região do Douro e temos uma pequena vinha. Pequena, que se torna enorme na hora de subir aqueles socalcos para começar a cortar as uvas. Quando chego lá em cima já estou cansada e já podia ir embora! :D :D :D

Há já muitos anos que não fazemos o vinho em casa, por isso não temos a parte festeira da vindima. Mas não quer dizer que não nos divertimos na mesma! Há sempre alguém que brinca, outro diz um disparate, outro às vezes canta, come-se e bebe-se com fartura... E o tempo passa rápido. Bem, passa porque na realidade é pouco terreno! :)

No final de tudo, que dura cerca de uma manhã (vejam o tamanho da minha "quinta"...), almoçamos descansados e no fim levam-se as uvas para a adega. Então lavam-se os cestos e aí a vindima chega ao fim! Aproveitamos o resto do dia, quando não há outros compromissos, para visitar familiares e matar saudades.

Fica aqui o registo da minha vindima de 2016: